Paguei os boletos, conferi o saldo do FGTS, tive uma crise existencial — ainda estou nela—, fui pra terapia, adicionei utensílios de cozinha ao meu carrinho da Shein, consultei o limite do cartão de crédito e é hora de parar de comprar, olhei algumas casas para alugar, tive medo de trancar a porta do quarto e ter um infarto e morrer e só pensarem que estou antissocial — como sempre —, terminei mais um capítulo do meu romance juvenil, li sobre as queimadas, as guerras, as violências por toda parte: o “jornal doloroso” e suas manchetes a cada hora do dia.
O título desta newsletter se refere ao álbum Miss Anthropocene, da Grimes, no qual ela trabalha com as questões climáticas. Em uma entrevista, ela diz: “Cada música será uma personificação diferente da extinção humana”. Estamos nos encaminhando para ela.
E é tudo que nos resta: transformar a crise climática em textos, músicas, poesias, pinturas, filmes? Assinar um abaixo-assinado pela preservação de algo, ir nas redes sociais e falar um monte, indignação, indignação, INDIGNAÇÃO?!
Alguns pensamentos para aniquilação iminente:
Como?
O medo debilitante do futuro ameaçado por mim, pela humanidade.
As consequências do aquecimento global pareciam tão distantes — mesmo acontecendo desde que nasci e antes.
Fogo, fogo, FOGO!
No Japão, os idosos têm morrido sozinhos. Até 2050, mais de 10 milhões. e isso também faz parte do fim da aventura humana na Terra?
Queremos achar vida em outro planeta, condenamos o nosso.
Queremos um contato extraterrestre e somos predadores de nós mesmos!
Estamos destruindo a Terra. Quem vai nos parar?
O que vai sobrar para amar?
Os ricos do mundo estão construindo bunkers e eu e meus amigos traçamos planos hipotéticos para um absurdo (?) apocalipse Zumbi.
Além da reserva de emergência para imprevistos financeiros, uma reserva para a velhice, ainda tenho que fazer a reserva para o fim do mundo?
Nossos indígenas estão sendo exterminados, estão ainda mais sozinhos do que o eram quando os portugueses os sentenciaram.
Estou exausta. Estou com raiva. E sinto ódio. Ódio mortal e homicida! E a Terra é o lugar mais perigoso para as mulheres. Nossa aniquilação também iminente?
Estou com nojo da humanidade.
Há uma grande nuvem de fumaça asfixiante entre eu e o futuro. No Brasil.
As guerras desumanizantes continuam: as bélicas, as sociais, as dentro de mim.
A Terra dá várias voltas, ela tão soberana nesta galáxia, tão cheia de vida, tão milagrosa, tão distante da misericórdia humana — e divina.
Quem está matando a Terra? Não quero mais saber where is the love.
Os direitos humanos são desumanizados o tempo inteiro.
Esses dias lembrei de Deus. O criador. Eu tão caída. Eu tão rebelada. Eu ainda sem querer Deus. Não nascemos um para o outro.
Com medo, triste e culpada.
Eu, a miss antropoceno. Choro e aceno. Meu planeta, adeus.
◖Indicações de livros, matérias, entretenimento, newsletters ou outras coisas
cinco newsletters
◖A Gabi Albuquerque, do Tempo pra você, e a crise climática;
◖O Pe Lu, do Viver de música, e algumas considerações sobre meu gênero favorito de música, o rock;
◖O Júnior Bueno, do Cinco ou seis coisinhas, e uma análise divertida e nostálgica sobre o filme Crossroads da princesa do pop (não preciso citar nomes, não é millennials?).
◖O Tiago Germano, do Aqui jaz um cronista, e esse desejo absurdo de quem quer ser um escritor;
◖A Maíra Ferreira, do Café com caos, escreveu sobre as tais amizades de baixa manutenção.
◖Na edição anterior de Tempo Estranho
spoliers do meu romance juvenil
◖Você também me encontra aqui:
Até a próxima!
Pertinentes questionamentos, necessários inclusive.