Palavras-pulsos cortados
"Escrevendo em minhas paredes com sangue porque a tinta da minha caneta não funciona no meu caderno"...
Obs: o subtítulo acima pertence a uma tradução da música Hope is a dangerous thing for a woman like me to have, da deusa Lana Del Rey.
Eu tenho uma atração (fatal) pelo desconforto escrito, seu horror encantado, a dor silábica. As palavras. Elas, que dizem. Elas, que apunhalam. O ato de escrever. De querer ser escritora. Tripas expostas. Palavras-sentenças. Quero assassinar a forma, o bem dizido, a excelência de saber. Quero escrever marginal. Quero escrever limpinho, límpido! Antimistério.
Me contradigo tanto.
Quero escrever perigoso, aquoso. Quero ser péssima. Ser espaço em branco. Chegar cedo para a minha hora da estrela! Quero ser intransitiva.
Na escrita, temos liberdades, mas, bem ali — ali! — a muralha.
Inquietações em meus dedos sangrentos.
Escrever quer me dominar!
Mas esbarro na parte de mim tão limitada, tão medrosa, tão tenebrosa, tão caluniosa.
Eu sou minha própria predadora.
Quero mais tempo. Quero quebrar os ponteiros. Quero ser uma sortuda. Quero ser decadente como um poema não lido, não entendido. Palavras rasgadas. Quero ser igual a essa e àquela. Mas, no fim, só quero ser eu mesma. Inescapavelmente eu mesma!
Quero a impetuosidade. Quero deixar a paralisia medrosa — ela que é tão quentinha, me deixa tão quietinha.
Preciso fazer um motim contra mim!
Preciso reivindicar a escritora. Torná-la. Preciso das palavras aliadas.
Me olho no espelho outra vez. Eu, que tanto enforco os meus sonhos cintilantes.
E nessa pena de mim feita de pássaros mortos, vou — voo!
Hope is a dangerous thing for a woman like me to have - but I have…
◖Indicações de livros, matérias, entretenimento, newsletters ou outras coisas
um livro, o casamento da Lana Del Rey, quatro newsletters, um vídeo do que são teorias e fatos sobre o caso Diddy até o momento
◖A Gabriela Lagemann, do Me vê mais uma newsletter, por favor, está com seu livro de poesias em pré-venda! O áspero das faltas (Patuá). E esse trechinho:
útero vazio
enquanto arrancam o útero da minha mãe
minha cabeça dói
querem que eu tenha uma menina
mas não quero parir ninguém
é como se eu ainda tivesse sete anos
me deixem brincar de carnaval
gastar o décimo terceiro em fantasias
pegar virose do gelo do ambulante
◖A minha deusa, Lana Del Rey, se casou em um pântano. É claro. Com um guia (e caçador) turístico de crocodilos. É óbvio. Ela aparenta estar feliz. É o que importa. Amo muito essa mulher, gente.
◖A Taís Bravo, do Trajetos de Escrita, e esse texto sobre escrever e se encontrar;
◖A Raisa Monteiro, de A vida possível, e um texto sobre o WhatsApp que não podia ser uma mensagem por WhatsApp;
◖A Laura Redfern Navarro, do Matryoshkaletter, e o que significa ser escritora publicada;
◖O Júnior Bueno, do Cinco ou seis coisinhas, e esse texto sobre nosso eterno seu Madruga;
◖A Marcela Aquino fez um vídeo sobre as acusações concretas contra Diddy e as que são teorias.
◖Na edição anterior de A adulta
tirando a publicação de aviso da mudança do nome da minha newsletter, na minha última publicação, de fato, falei sobre minhas inquietações com o fim do mundo
◖Você também me encontra aqui:
Até a próxima!
Uma escrita muito, muito cirúrgica.
"Quero mais tempo. Quero quebrar os ponteiros. Quero ser uma sortuda. Quero ser decadente como um poema não lido, não entendido. Palavras rasgadas. Quero ser igual a essa e àquela. Mas, no fim, só quero ser eu mesma. Inescapavelmente eu mesma!" entrou em mim, e ficou. reflexo.