literatura para o jovem adulto no Brasil – parte 1
por que a história da Mary é mais interessante que a história da Maria nos livros independentes?
Ontem, 1º de maio, foi o Dia da Literatura Nacional, e por isso resolvi escrever esta newsletter — como uma reflexão e não como uma crítica — porque literatura nacional é urgente! Foi graças a nossa literatura que conheci o mundo dos livros, que me salvou (e que salva) de tantas formas.
Na pré-adolescência, lá nos inesquecíveis anos 2000, lembro que meu primeiro livro foi A marca de uma lágrima, do incrível Pedro Bandeira, que me marcou profundamente e que me fez nunca mais largar um livro. Claro que depois conheci os livros estrangeiros, mais especificamente os da literatura dos Estados Unidos, e fui tragada para esse universo por uma boa década em que ignorei os livros nacionais, que para mim só tinha qualidade se fosse um dos clássicos.
Sempre fui apaixonada por livros para o público adolescente (como somos “americanizados”, chamamos de young adult ou YA, que abrange, mais ou menos, a faixa etária entre 14 e 18 anos, mas há quem estique até os 29, não sei como…), e de jovens no início da vida adulta (NA ou new adult, que começa nos 18 anos e segue esse período universitário e da busca da estabilidade financeira). Mas quando tive dificuldade em achar nas livrarias uma variedade desse tipo de livro escrito por autores brasileiros, comecei a buscar na literatura independente os romances juvenis que tanto queria ler, e fiquei um pouco impressionada com a quantidade de livros ambientados nos EUA, como se os personagens fossem mesmo de lá.
Esses dias me deparei com o post de uma pessoa dizendo que não dá pra ler literatura nacional por causa dos nomes brasileiros, vejam só!, e isso me causou uma certa indignação, porque sabemos bem o quanto a literatura estrangeira parece sempre estar em vantagem aqui, onde os filhos deste solo são pouco gentis com a literatura nacional para além — muito além — dos vencedores dos grandes prêmios literários e dos autores que já são bem conhecidos na mídia e com milhares de seguidores.
A lista de mais vendidos da Publisher News não me deixa mentir, uma vez que foi quase impossível tirar Colleen Hoover (uma referência de literatura para jovens) do topo dos mais vendidos durante meses! E mesmo ela não estando mais no primeiro lugar, ainda é figurinha carimbada no top 10 sempre.
E nem vou entrar na questão das polêmicas que envolvem seus livros, a qualidade literária e os assuntos que ela aborda de uma forma tão... (vou parar por aqui). Li alguns e queria “desler”, essa é a verdade.
(pausa para uma respiração profunda e dramática).
O ponto que quero chegar, exclusivamente como leitora, é que quando livros para o público YA e NA são produzidos por aqui, por autores independentes, a maioria das histórias são... estrangeiras. Não são a nossa realidade. São livros sobre a Bethany e o Axel; é sobre o baile do ensino médio e o Hallowen; é sobre a líder de torcida ou do garoto bad boy que vive como um homem de 25 anos.
Mas o que tem levado autores independentes a escrevem ficção como se fossem autores “americanos”? Alguns até mesmo usam pseudônimos com nomes estrangeiros. Será que é por causa desse comportamento de que valorizamos mais a literatura de fora e essa mentalidade errônea de que lá tem mais qualidade? E tem? É sobre o gosto e a marca pessoal do escritor? (que tem o direito de escrever o que quiser e o deve fazer!). Mas por que fazemos isso? Por que escrever sobre a Mary e não sobre a Maria? Cadê os jovens personagens nordestinos engolindo a literatura nacional? Por que leitores se atraem tanto por autores de nome estrangeiro nas capas dos livros e quase sempre ignoram os autores que se chamam Leticia, Raimundo, Camila, o José e por aí vai?
Para muito além do que vende mais na Amazon, cadê o Brasil e a nossa cultura retratados nas páginas de um romance adolescente? Estou saturada de ler sobre líderes de torcida e capitães de time de futebol americano; estou saturada de ler sobre os fodões das fraternidades e as garotas do interior do Texas.
Está newsletter não é uma crítica aos autores independentes que escrevem livros para jovens adultos de forma “americanizada”, pois eu os leio uma vez ou outra, mas eu não sinto nada de diferente de estar lendo um autor/autora estadunidense. Mas se a mesma história se passasse no Brasil, com nomes brasileiros, eu tenho certeza que seriam incríveis, porque nossa literatura para o público jovem PRECISA de mais livros que retratem nossa realidade, nossos lugares, nossas identidades, nossos dizeres, nossa comida, nossa música, nossa diversidade regional, nossas lutas e tudo aquilo que só nós conhecemos e que apenas nós podemos escrever.
Autores que escrevem para o público jovem adulto, por favor, escrevam mais livros ambientados no Brasil!
Precisamos ocupar o Brasil na literatura! ♥
O que ler:
A marca de uma lágrima : Isabel, uma jovem inteligente e criativa de 14 anos, apaixona-se por seu primo Cristiano, que é apaixonado por Rosana, sua melhor amiga. Como seu amor não é correspondido, Isabel encontra um caminho para declarar-se a ele: escrevendo cartas românticas, que são assinadas pela amiga Rosana. Obcecada por esse sentimento, a adolescente nem se dá conta de Fernando, que a ama e está sempre por perto como um bom amigo. O assassinato da diretora da escola muda os rumos dos acontecimentos, e Isabel corre risco de vida por ter testemunhado mais do que devia. No hospital, descobre seu verdadeiro amor por Fernando.
Amor... perdidos e achados : Caê chegou na sala de aula da faculdade numa tarde de tempestade. Alto, cabelos claros e encaracolados, óculos escuros e redondos, do signo de leão, sotaque baiano. A romântica Carolina nem precisou consultar as estrelas. Não haveria dois iguais a ele. Caê ganhou o coração dela desde o primeiro encontro. Depois de uma rápida e intensa aproximação, os dois começaram a namorar – ou quase isso. Com muitas borboletas no estômago, Carolina conta sua confusa e deliciosa história de amor.
Esses são alguns dos meus livros jovem adulto e novo adulto favoritos aqui da nossa literatura! Me indiquem outros livros maravilhoso!
Até a próxima.
Anny, ótima reflexão. Depois que eu comecei a ler literatura brasileira e africana (principalmente da Nigéria), acho uma chatice os livros norte americanos. Muito quadradinhos, né?