O sofrimento amoroso na música

Canções brasileiras sobre amores doloridos que eu escutava na infância

---

Há alguns anos, no Instagram, um desafio nos stories nos desafiava a compartilhar músicas que escutávamos e que ninguém imaginava, e claro que o brega e as baladas românticas entravam no gosto musical "secreto" de muita gente.

Reginaldo Rossi, Gilliard, Núbia Lafayette, Wanderléa, Lairton e seus teclados e tantos outros foram citados. Eu tenho uma playlist no Spotify intitulada "Eternas" apenas com essas músicas que atravessaram as décadas e que hoje mais parecem ser conhecidas como "música de bar". 

Incontáveis músicas fazem parte das minhas memórias de menina, nem sempre agradáveis. Na minha casa da infância, tinha um aparelho de som muito velho e sem botões, e que na parte de cima era uma vitrola. Nele, tínhamos que colocar a mão por dentro, e assim conseguir ligá-lo e sintonizar as estações. Como meu ex-padrasto detinha o controle do aparelho, não me sobrava muita escolha além de ouvir o que ele gostava, e assim cresci escutando Racionais, brega e música sertaneja (quando ainda estávamos seguros do sertanejo universitário). Claro, na época eu odiava, pois como meu ex-padrasto era um alcoólatra violento, a sensação de medo, desesperança, tristeza e raiva eram as emoções que eu tinha sempre que eu escutava alguma música que ele colocava, sempre acompanhado de sua cachaça e sua presença opressora. 

Algumas músicas me lembram esse tempo da infância e me deixam deprimida por alguns minutos, fazem eu me sentir uma garotinha assustada, mesmo que suas letras não conversem com minha dor, apenas suas melodias, como ecos, como pesadelos dos quais não consigo acordar. Outras eu tolero quando estou em algum ambiente e elas começam a tocar. Outras escuto e, mesmo me sentindo deprimida, as acho belíssimas demais para ignorar.

Selecionei algumas músicas que me despertam esses sentimentos conflituosos entre a tristeza e o passado na casa da minha infância:

1. A primeira é a que me deixa mais deprimida. Coração Vazio (1999), de Chitãozinho e Xororó. A relembrei na última edição da newsletter do Júnior Bueno, que falou sobre as músicas da dupla para além de Evidências. Eu lembro de um dia em que eu estava com muito medo que minha mãe morresse (eu vivia apavorada com essa possibilidade, e ainda vivo), e essa música estava tocando. Desde então, eu sempre fico muito, muito deprimida quando essa toca. Nela, o eu-lírico fala sobre uma relação que parece estar chegando ao fim, mas pela qual ele ainda quer lutar. Eu me sinto absurdamente desolada quando a escuto.

Feche os olhos pra pensar
Nós temos que enfrentar
Me abrace, por favor
Só assim nós vamos mudar
A história desse amor...

2. De tanto amor (1971), de Roberto Carlos, me faz ter uma profunda sensação de melancolia. Nela, o eu-lírico se despede de um grande amor, e mesmo se conformando com o fim, sabe que ainda vai sofrer muito para esquecer tudo que foi vivido. Para mim, é a música mais tristemente bonita do tal rei.

Ah, eu vim aqui amor
só pra me despedir
E as últimas palavras desse nosso amor, você vai ter que ouvir
Me perdi de tanto amor, ah, eu enlouqueci
Ninguém podia amar assim e eu amei
E devo confessar, aí foi que eu errei

3. Márcio Greyck, em 1998, lançou O mais importante é o verdadeiro amor, na qual o eu-lírico deixa sua atual companheira para voltar para outra mulher, que diz ser o seu verdadeiro amor. Essa mexe com aquela sensação de abandono. Imagina estar com alguém que só ficou com você para tentar esquecer outra pessoa… Ou você ser a pessoa que tentou sentir algo por alguém para não sofrer por outra. Dilemas do amor e do desamor.

Você deve compreender-me
Se eu quis sonhar
Foi você que teve a ideia de querer-me
E isso eu quero esquecer

Para que pedir carinho
Que não vale mais
Porque o meu destino está tão marcado
Ah, minha vida, outra vida, um amor de verdade

Te asseguro que esta noite
Voltarei para quem amo…

4. Nelson Gonçalves (autor da letra) e Núbia Lafayette (com a qual a música se popularizou), chegaram às rádios brasileiras na década de 60 com a música Devolvi. Nela, o eu-lírico, com uma certa amargura e dor, devolve alguns pertences ao seu amor, quando a relação acaba.

Devolvi o cordão e a medalha de ouro
E tudo que ele me presenteou
Devolvi suas cartas amorosas
E as juras mentirosas
Com que ele me enganou
Devolvi a aliança e também seu retrato
Pra não ver o seu sorriso
No silêncio do meu quarto

5. Muito antes de Taylor Swift, Maysa já era uma poeta torturada. Dona de uma voz e personalidade marcantes, lançou Meu mundo caiu em 1958, uma de suas músicas mais doloridas. Quantos de nós não nos sentimos desmoronar por uma desilusão amorosa?

Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar

Essas são as músicas que me deixam com aquela sensação de depressão musical, e que, para mim, são um verdadeiro exemplo de música popular brasileira, pois não há um só ser humano que não tenha passado pelos desastres do amor romântico. É isso que todos nós temos em comum muito mais do que qualquer outro assunto, não é mesmo? 

Me diz, quais músicas brasileiras te deixa com depressão musical?

---

◖Indicações de livros, matérias, entretenimento, newsletters ou outros coisas

duas newsletters e o novo álbum da Billie Eilish

◖A Taize Odelli falou sobre um dos meus livros favoritos da vida, Aos meus amigos, e as frustrações da vida adulta;

◖A Fernanda Chazan, do Escrevendo no escuro, falou sobre as oportunidades, ou a falta delas, do mundo dos roteiristas, e acho que também podemos perceber isso no mundo literário;

◖Estou completamente rendida ao novo álbum da Billie: Hit Me Hard and Soft. Tem músicas tristes, animadas e animadas para dançar mesmo triste. Para mim, ela está me seu melhor momento musical. Ontem ela lançou o clipe de Chihiro, uma das melhores músicas do álbum. Escutem!

---

◖Na edição anterior de Tempo estranho

um pouquinho do que sinto em dias que não ligo pra mim mesma e uma poesia autoral

Dias imperfeitos

---

◖Você também me encontra aqui:

1. Instagram

2. Threads

3. TikTok

4. Meu conto na Amazon

Até a próxima!