Priscilla e o Rei do Rock
O relacionamento de Priscilla com Elvis Presley retratado no filme de Sofia Coppola
*Informo que o texto contém spolier do filme. E o subtítulo desta newsletter foi editado duas vezes porque minha cabeça não serve pra mais nada hoje.
Na última quarta-feira, assisti a pré-estreia de Priscilla (de Sofia Coppola), que é uma adaptação do livro autobiográfico Elvis e Eu, escrito por Priscilla Presley e publicado em 1985. No filme, a história de um relacionamento bem difícil e um tanto perturbador sobre Priscilla e Elvis Presley.
Eu acredito que não seja fácil se relacionar com pessoas muito brilhantes. Pessoas com talentos gigantescos, que parecem ofuscar tudo em volta tão naturalmente. Elvis Presley foi uma dessas pessoas. Imenso. Um acontecimento. Magistral. Uma lenda. Um deus. Único. UM REI.
Elvis é praticamente uma figura divina no mundo da música (independente de gostos pessoais), sendo considerado o Rei do Rock, com um talento inegável e que foi brilhantemente interpretado por Austin Butler no filme de 2022 que retrata sua carreira. Eu assisti ao filme completamente embasbacada e emocionada por sua história musical. Elvis era um fenômeno, e também sofreu sua cota de dores, frustrações e abuso de drogas que o jogou numa espiral de autodestruição que foi sugando tudo a sua volta. Inclusive Priscilla. Eu tenho muita admiração pelo artista Elvis. Ele foi um artista único. Jamais haverá algo igual. Mas no filme de Sofia, somos apresentados ao Elvis homem, apenas. E ele é muito humano. E ainda que sua presença seja esmagadora e paire o tempo todo sobre a vida da personagem principal, Priscilla, é ela quem brilha dessa vez. A conhecemos. Descobrimos seus sonhos e medos. Seu coração.
Priscilla tinha apenas 14 anos quando conheceu Elvis, que na época prestava serviço militar na Alemanha, onde ela morava. Ele tinha 24 anos. Uma relação desproporcional em todos os níveis. No filme, vemos uma Priscilla totalmente arrebatada por Elvis e tudo que ele representava, uma menina sem nenhuma experiência de vida, ainda na escola, sem nenhuma defesa emocional contra aquele "príncipe" que lhe oferecia um conto de fadas que a maioria das mulheres da época desejariam viver. Mas Priscilla era só uma menina. E ele, um homem descobrindo até onde ia seu poder. Que era muito. Que ia muito longe. Segundo relatos de Priscilla (na vida real), Elvis parecia uma pessoa solitária, apesar de viver cercado, e eles tiveram uma conexão de amizade instantânea.
Mas como eu disse, ela era só uma menina diante de seu primeiro amor, que também era um astro.
Sabemos também, segundo Priscilla, que eles não mantiveram relações sexuais até a maior idade dela, quando se casaram.
“As pessoas pensam: ‘Ah, foi sexo, foi isso’. Eu nunca fiz sexo com ele. Ele era muito gentil, muito gentil, muito amoroso. Mas ele também respeitou o fato de eu ter apenas 14 anos. Estávamos mais conectado mentalmente e pensávamos que esse era o nosso relacionamento”. (Correio Braziliense)
Elvis era cheio de fama, vícios, personalidade controversa, um homem que tinha tudo e a quem nada era negado. Seu domínio sobre Priscilla ficou muito evidente no filme. Não era uma relação justa. Priscilla era uma menina. Apaixonada. Fã. E sem muita resistência dos pais, foi deixada à própria sorte para viver ao lado de um astro do rock.
No filme, diversas vezes vemos Priscilla desconfortável com o mundo de Elvis, em ter que transitar ali entre os adultos, sem nenhum conhecimento, tendo que se adaptar ao mundo de excessos dele com as drogas, as festas e seu controle e excentricidades. Diversas vezes tive vontade de arrancá-la da tela e protegê-la, como quando Elvis lhe deu remédio para dormir e ela passou dois dias desacordada, ou quando ele, nervoso por conta de um trabalho, jogou uma cadeira contra a parede perto da sua cabeça, ou mesmo quando ele lhe deu armas como se fossem acessórios, e ainda quando ele viajava e a traia e depois dizia que era coisa da cabeça dela, e quando ele decidia sobre o que ela tinha que vestir, sua maquiagem, seu cabelo. Qualquer mulher que passou por um relacionamento não saudável pode facilmente se identificar com esses cenários. Em maior ou menor grau. Elvis era dono de uma parte do mundo musical e do mundo de Priscilla.
Elvis era um excesso. Um peso grande demais para o coração de uma adolescente. Uma estrela gigantesca, mas cadente. E ele caia rapidamente, mas, assim como na vida real, Priscilla conseguiu não ser completamente destruída, e pediu o divórcio. Mas não tinha como apagar Elvis de sua vida. Ele foi legítimo. Ele foi seu amor mais verdadeiro.
Elvis foi o grande amor ruim de Priscilla. Um grande amor ruim é imenso, faz sombra, rouba a luz e o ar. Um grande amor ruim devora. É carnívoro. Devora corações. Um grande amor ruim é uma religião, e corações devotos como o de Priscilla se ajoelham.
Um grande amor ruim ainda é amor.
É sobre o amor de quem o sente e não sobre a coisa amada. Um grande amor ruim é elástico. É um acidente. É queda no abismo. É como um tiro sem chance de sobrevivência. Eu sei.
Não havia escapatória para o coração de Priscilla, mas, de alguma forma, ela conseguiu deixá-lo e refazer sua vida. Mas não se pode esquecer o Rei do Rock.
E no filme de Sofia, no fim, enquanto Priscilla deixava Graceland e seu amor para trás, a versão original da música I will always love you — que ficou conhecida na voz de Whitney Houston — ganha uma dramatização ainda mais profunda na voz original de Dolly Parton, e segundo a própria cantora, em matéria na Rolling Stone, Elvis cantou a música para Priscilla no dia da assiantura do divórcio. “Elvis amava a música. Na verdade, eu falei com Priscilla, há algum tempo. Ela me disse, 'Sabe, Elvis cantou aquela música para mim quando descemos as escadas do tribunal ao nos divorciarmos. Ele estava cantando 'I Will Always Love You' para mim'”.
“Lembranças agridoces
Isto é tudo que levarei comigo
Adeus, por favor, não chore
Nós dois sabemos que eu não sou o que você precisa
Mas eu sempre te amarei
Eu sempre te amarei”.
Eu sou uma romântica tóxica.
Priscilla é um dos melhores filmes que assisti em 2023, e terá estreia nacional no dia 4 de janeiro. Sofia Coppola criou uma cenário e dramatização tão íntimos, que Priscilla parecia uma amiga. Achei muito bom também o fato da morte de Elvis não ter sido retratada no filme. Não sei se foi um pedido pessoal de Priscilla ou uma decisão do roteiro de Coppola, mas o filme foi até onde deveria ir.
Elvis era a estrela, mas essa história não era dele.
Indicações de livros, matérias, newsletters e outras coisas bem legais
um livro, um filme e um reality show
◖Claro que indico Priscilla para toda e qualquer pessoa que tenha (ou não) interesse e curiosidade sobre Priscilla e Elvis Presley.
◗ Um dos realitys show sul-coreano que mais amo na vida estreou sua terceira temporada, e estamos falando de Single’s Inferno, ou como prefiro: Solteiros, ilhados e desesperados (hahaha). Quem também adora, se manifeste!
Diferente das duas temporadas anteriores, o Inferno (a ilha onde eles ficam) está um cenário pavaroso de Lost. O que com certeza vai tornar as disputas por corações mais acirradas e assim poderem ir para o Paraíso (hotel de luxo onde os casais que deram match passam uma noite).
◖Terminei essa semana a leitura do livro A face mais doce do azar, de Vera Saad, e que leitura! Eu amo livros nacionais ambientados nas décadas passadas, principalmente antes da virada do milênio. Em A face mais doce do azar, que acontece a partir dos anos 90, um período econômico e político muito difícil no país, foi muito interessante e angustiante ler sobre esse lado da interferência política na vida da personagem principal e de sua família, e essa interferência é quase como uma personagem coadjuvante (ou principal também?).
Seja como for, o cenário político em que Collor mergulhou o país desencandeou perdas e mudanças terríveis e irreparáveis na vida de Dubianca.
◖Você também me encontra aqui:
Até a próxima!