Ainda procurando minha praia vazia.
O radinho à pilha da adolescência sintonizado na 94.7 FM, os maiores sucessos do pop e do rock internacional e nacional embalando meu tédio juvenil, a vontade de tudo, o desespero da descoberta.
Eu quero escrever a janela de uma apartamento, os carros na pista lá embaixo, a sensação de uma tarde pós-almoço e o tédio gritante do relógio e da falta de motivos.
Eu sinto algo muito específico nas horas entre o meio dia e duas da tarde. Uma inspiração de passado. Uma brecha no tempo se abre para mim.
Meu avô materno uma vez contou que uma nave alienígena sobrevoou o sítio onde morava. Eu acreditei. Acredito.
Vê a geladeira de casa e os armários com comida é, para mim, o mais próximo daquilo que os crentes na vida após a morte chamam de Paraíso. Comida na mesa: essa é a minha fé.
Saudades de ouvir as máquinas de costura das tias, na minha infância. Das calcinhas e vestidos de algodão feitos para mim. De pegar os retalhos e costurar roupinhas para as bonecas. Quase consigo pegar o instante. Estou lá outra vez.
Eu queria ser uma dessas pessoas extrovertidas, com uma simpatia magnética. Mas prefiro ficar dentro de mim. Meio esquisitona. Quieta.
“Receber cuidados é um final feliz, certo? Mesmo se a vida for difícil”. Trecho da série chinesa Quando se tem mais uma chance.
Lana Del Rey é um estado musical, poético e estético da minha alma.
Vivemos nas redes sociais e desconhecemos o ser humano.
Eu queria ler um livro que se passasse nos anos 80, que evocasse toda a atmosfera efervescente e rebelde do rock nacional, com motos aceleradas e corações inquietos pela cidade de Fortaleza, a paixão juvenil e improvável entre um garoto problemático e uma garota certinha, então o escrevi.
“Sofia meteu a alma em um caixão de cedro, encerrou o de cedro no caixão de chumbo do dia, e deixou-se estar sinceramente defunta”. Trecho do livro Quincas Borba.
Estou com tédio e sintomas de nostalgia, então sintonizei na 94.7 FM. Não suportei dois minutos antes de voltar para o Spotify.
◖Indicações de livros, matérias, entretenimento, newsletters ou outras coisas
um documentário
◖O documentário Vou rifar meu coração, de 2011, sobre a trilha sonora da música brega nos amores avassaladores.
◖Na edição anterior de A adulta
notas sobre os medos na escrita
◖Você também me encontra aqui:
Até a próxima edição!
o curioso efeito das redes sociais: tornar as pessoas antissociais.
A eterna monotonia do crescer