Você tem gosto de bala de morango, mas arde como limão na ferida
Meu romance juvenil: algumas considerações e spoliers
Escrever sobre o universo adolescente é algo que me desafia mais do que escrever sobre a vida muito adulta. Lidar com os sentimentos e ações dos meus jovens personagens me coloca diante de futuros possíveis, mas não mais para mim.
Minha adolescência em nada daria um livro. Narrativa curta, cheia de furos, voz indefinida, tempos verbais confusos, erros de pontuação grotescos, temas mal trabalhados.
Com meus adolescentes, eu posso testar as possibilidades que não tive, os argumentos que não consegui elaborar, as dores que não consegui superar, alterar a profundidade dos abismos nos quais pulei ou que fui atirada.
Com meus adolescentes tudo é possível. Eu os amo tanto. São fictícios, são partes de mim. São parte de outra coisa. Precisam ser parte de outra coisa. Eu preciso escrever essa história. Eu preciso terminar esse romance. Meus jovens tão comuns, com sentimentos tão comuns, com escolhas tão comuns, com destinos tão comuns.
A adolescência: essa fase única da vida em que quase podemos tocar o céu, e na qual também somos o tempo inteiro e brutalmente puxados para o chão.
Meu romance precisa ser coisa real por fora, mas do que eu sou por dentro.
Meu romance juvenil tem gosto de bala de morango, mas também pode arder como limão na ferida.
C. e B. são opostos, cheios de arengas, divididos por uma cidade que ocupam de formas diferentes. Ela anda com a tranquilidade de quem tem uma parte do mundo aos seus pés. Ele quer que tudo se exploda! Ela pode ser fútil. Ele pode ser um idiota. Ela tenta ser exemplar para a família, para a escola, para os seus amigos. Ele é um delinquente que passa os dias à toa, um maior abandonado. Ela acorda cedo para ir pra escola. Ele vira as madrugadas, acelerando a sua moto, está sempre aqui, ali e em lugar nenhum. Eles precisam um do outro. Eles nunca deveriam ter se conhecido. Improváveis.
É apenas mais uma história de amor comum.
Estou terminando. Prometo. Estou terminando!
◖Indicações de livros, matérias, entretenimento, newsletters ou outras coisas
duas newsletters, um filme, um retorno
◖A Ana Eliza, do Boletos e Borboletas, e o necessário pensamento passivo;
◖Rolando o feed do Notes, me deparei com essa news estrangeira do Poetic Outlaws com o seguinte chamado: “Stop aspiring and start writing”;
◖Assisti o filme Control (2007), que conta a história da banda Joy Division, e achei de uma preciosidade! Acompanhar o início da banda, o processo criativo do Ian, sua situação com a epilepsia, seu desconforto existencial (tão meu), seus amores e erros, sua missão musical de nos dar o álbum Unknown Pleasures (no qual consta a minha música favorita da vida, minha alma gêmea musical: New Dawn Fades), o suicídio e tudo tão perfeitamente interpretado pelo Sam Riley. Disponível no MUBI.
◖O retorno da melhor banda de rock dos anos 2000: Linkin Park!!! E com uma vocalista mulher!!! E essa nova música!!!
E para os fãs inconformados: Chester é eterno, mas a banda ainda existe, ok? Tantos artistas incríveis morreram, bandas acabaram, outros esquecidos pela massacrante nova era da indústria musical e de artistas que fazem mais do mesmo, que o retorno de uma das maiores bandas dos últimos anos deveria ser motivo de alívio e não de discussões ordinárias.
◖Na edição anterior de Tempo Estranho
falei sobre o sentimento grotesco de terminar de escrever um livro (ou dois)
◖Você também me encontra aqui:
Até a próxima!
"Com meus adolescentes, eu posso testar as possibilidades que não tive, os argumentos que não consegui elaborar, as dores que não consegui superar, alterar a profundidade dos abismos nos quais pulei ou que fui atirada." Isso aqui foi lindo! Aliás, amei demais o texto e fiquei muito empolgada com a possibilidade de conhecer esses personagens o quanto antes! Também escrevo há muito tempo uma história com jovens personagens e suas dores, entendo profundamente o seu amor por eles! Me inspirou bastante. Obrigada!
Que baita título!