Amigos e leitores, acaba aqui a publicação de Amor Comum.
Eu acredito que há muitas falhas, principalmente estruturais do que significa ser um conto, — uma narrativa —, segundo as regras, mas eu adorei escrever essa história e nela coloquei todos os elementos que definirão o meu projeto literário juvenil: a amizade, os primeiros sentimentos românticos, a cidade de Fortaleza, as décadas passadas e as dificuldades e cintilâncias da juventude.
A adolescência é algo que me provoca curiosidade e compaixão. Nossos jovens, quando não detestados pelos adultos que não suportam lidar com suas necessidades, bobagens e confusões, são negligenciados e deixados a própria sorte, vulneráveis a toda sorte de péssimas decisões e influências.
Muitos escritores de histórias juvenis também deixam seus jovens personagens à crueza de caprichos íntimos e de situações sem nenhum propósito que não o de chocar ou de banalizá-los. Já li muitas livros assim, e me comprometi a jamais usar meus personagens de forma puramente comercial.
Tenho um longo caminho e muito a aprender, mas começo por Amor Comum.
Obrigada a todos pela leitura!
UM CORAÇÃO PARTIDO QUE AINDA BATE
Presente, de volta à tarde mais triste de todas
Melancólico e alheio aos amigos, Chico se lembra que dias depois do incidente da pipa, encontrou Lúcia na praia. Ele estava jogando bola com seus amigos, tentando imitar o estilo de Pelé, seu ídolo, e Lúcia, um pouco mais afastada com as amigas, estava deitada sobre uma toalha com estampa da bandeira dos Estados Unidos. Ela vinha lhe dando o maior gelo no colégio, ignorando todas as suas provocações, até mesmo quando a chamou de feia! Mas algo mudou, ele sentiu nos ossos. Lúcia olhava em sua direção, mas daquela vez sem tanta antipatia, enquanto ele tentava fazer pose de desinteressado, mas sem tanto sucesso. Na semana seguinte, a chamou para comer pipoca na praça, ao que ela aceitou com muita insistência das amigas, porque, afinal, o rapaz não era de se jogar fora, muitas delas até adorariam ter sua atenção. E Lúcia, por puro ego, gostando da ideia de ter o garoto mais desejado do colégio a sua procura, mas também pela intensa vontade de beijá-lo que ainda não tinha passado, resolveu aceitar o convite.
Entre a estranheza das primeiras frases exploratórias, as arengas de lado, ele foi deixá-la em casa, e a mágica do absurdo aconteceu.
Chico se lembra de como o céu passou a parecer mais azul, as nuvens mais brancas, as árvores mais verdes. Por semanas, ele e Lúcia alimentaram o falatório de toda a escola à surpresa do novo casal que era tão improvável. Chico se sentia o máximo, toda a sua atenção tão distante de uma Kátia chorando no banheiro quando o viu saindo com Lúcia, com um coração tão minúsculo como o dele estava agora.
Deveria ter escolhido a certeza de um sentimento ao invés de ter se arriscado ao desconhecido?
Agora, se acha bobo e idiota. Seus dezesseis anos não eram o suficiente para fazê-lo se sentir otimista diante de seu coração partido, que tinha certeza de já ter partido outros tantos, mas como doía quando era o seu atingido. O primeiro amor, esse que nunca pede licença, nunca se apresenta antes ou diz a que veio; invade mente, corpo e alma, empurrando toda a racionalidade pro lado, gritando suas exigências e urgências.
Mas no começo, ah, o começo!
Lúcia e sua risada, os olhos e também as pequenas unhas com esmalte lilás descascando, aquelas mãozinhas tão pequenas que cabiam nas suas, ficando escondidas como um tesouro. Então, os lábios de Lúcia, que ele só descobriria o sabor em seu primeiro encontro oficial, quando foram ao Cinema São Luiz, e dali passearam pela Praça do Ferreira e conversaram como se Chico nunca a tivesse achado irritante e fresca, e Lúcia, vítima do próprio coração que julgava indiferente ao rapaz, já não o achava um metido e brutamontes! Seu coração também tinha começado a bater em uma nova frequência. Conversaram sobre todas as coisas mais interessantes e bobas possíveis, como Chico ficar surpreso por Lúcia nunca ter faltado uma aulinha sequer e a menina não ficar nada surpresa por ele já ter gazeado aula várias vezes com os amigos para fazerem competições de jogar bila. Até sobre a possibilidade de tirarem o presidente do poder conversaram, o qual Lúcia achava muito charmoso, mas que Chico considerava um boboca de marca maior. Os dois tão ingênuos nos assuntos políticos do país e de si próprios. Chico segurou a mão de Lúcia, mais confiante do que nunca, se sentindo tão seguro, o coração no peito disparado, e o primeiro beijo aconteceu.
Daquele dia em diante, o rapaz sentia que havia tanto de Lúcia dentro de si que já não sabia onde ele mesmo estava. Sentia-se um desmiolado, todos os parafusos soltos, insensatos, agoniados. Lúcia foi a primeira a confessar os sentimentos depois de um mês, em uma carta cheia de marcas de beijo de um batom vermelho que ele nunca a viu usar. E tantas foram as noites de fim de semana em que saíram juntos, os amigos reclamando da ausência dele. Chico parecia ter descoberto um grande segredo, o seu real propósito. Ficava horas e horas ensaiando o que dizer a Lúcia, coisa que nunca precisou fazer antes, pois sempre considerou muito fácil conquistar as garotas com quem quis ficar. Seu quarto, decorado com os pôsteres de Michael Jackson, De volta para o futuro, Queen, Legião Urbana, Rocky: um lutador, Cazuza, Rambo, Pelé e Arnold Schwarzenegger não era mais apenas um lugar de dormir e passar tempo, era onde fantasiava toda uma vida com Lúcia.
Ele se sentia fantástico naquela época, era como se, assim como faziam com os carros, alguém o tivesse envenenado, o deixado mais imbatível. Era o sentimento mais louco de todos. Até pediu ao pai que aumentasse sua mesada só um pouquinho, queria poder ter dinheiro para sair com Lúcia mais vezes. O pai concordou, desde que não parasse de tirar boas notas, já acostumado com as conquistas do filho, duas ou três garotas já tinham batido em sua porta atrás dele, mas não ia aceitar notas baixas. Já a mãe, teve medo de que o coração do único filho pertencesse de vez ao mundo das garotas e não mais só a si mesma. Parecia que o menino vivia no mundo da lua, nunca tinha visto ele dessa forma. Ainda o achava muito bebê para lidar com as paixões, mas nada poderia fazer. O menino estava em um caminho sem volta. Temerosa, pediu que o marido conversasse com ele sobre camisinha, não queria que o menino fosse pai adolescente. Mas o filho ainda não tinha chegado nessa fase com as garotas.
Por cinco meses, Chico e Lúcia foram inseparáveis. Queriam passar cada momento livre juntos, e o tempo que passavam separados era gasto com a saudade que sentiam. Beijos roubados quando um estava na casa do outro sob a supervisão dos pais e as escapadas até o parque de diversões que chegou no bairro de Lúcia, onde andaram na roda-gigante incansavelmente e pareciam tão eternos, e depois mais beijos, risadas e declarações de amor. Chico tinha feito Lúcia escutar os álbuns V e As quatro estações da Legião Urbana, deitados no chão da sala de estar. E depois, claro, Lúcia fez Chico escutar Seu espião, do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, sua banda favorita, e a que Chico mais detestava, mas que nada comentou com a garota que dançava tão à vontade, como se fizesse parte da sua casa, assim como a cadeira de madeira e palha em que o pai sentava para assistir ao jornal ou o sofá laranja onde sua mãe se deitava para assistir à novela logo em seguida. Lúcia, para Chico, também passou a ser parte de tudo que existia em sua vida caseira.
Então, o garoto lembra da vez em que assistiram O exorcista, na fita VHS que Pedro pegou escondido na locadora do seu avô, e todos seus amigos e ele próprio riram tanto das cenas da garota possuída, ao ponto de deixar Lúcia irritada e emburrada, já que claramente o filme não fora feito com o intuito de ser uma comédia, e quando começou a guerra de pipoca, ela foi embora sem nem mesmo se despedir, após pedir diversas vezes que Chico se comportasse. Por todo aquele fim de semana, Chico ficou pendurado ao telefone, mas a namorada não quis atender a ligação uma única vez, orgulhosa como era. E só voltou a falar com ele quando se viram na escola, onde o rapaz a esperava no portão de entrada com sua melhor cara de pedido de desculpas, recebendo um beijo dela, a zanga tinha passado, e ele a abraçou como se sua vida dependesse disso para continuar e prometeu que se comportaria dali pra frente.
Promessa que quebrou muitas vezes.
Suas memórias são interrompidas quando Pedro dá um assovio de deixar qualquer um moco. Voltando de novo para seus pensamentos tão fortes, Chico ainda podia sentir o gosto salgado de mar nos lábios quando beijou Lúcia em um domingo de novembro em que foram à Praia do Futuro com os amigos, o sol do meio-dia tão quente, mas nem ligavam. Passaram filtro solar um no outro, com muita insistência de Lúcia, e entraram no mar um pouco agitado. Chico logo se colocou como salva-vidas da namorada, pois nadava muito bem. Tudo estava perfeito naquele de dia sol e céu azul. Lúcia nadando sobre suas costas para longe do raso e eles não paravam de rir, até o momento em que Chico a assustou fingindo ser um tubarão e Lúcia fez aquele bico emburrado que ele tanto amava, mas logo fizeram as pazes. Mas quando voltaram para a praia, um grupo de garotos com ares de donos do lugar, para quem todos os privilégios se apresentavam sem esforço algum, começaram a implicar com Chico e seus amigos.
Primeiro, foram as risadas e cochichos, depois, um deles perguntou o que os pobretões faziam ali, na cara dura e com petulância. Meio Pão foi o primeiro a querer enfrentá-los, mas foi controlado por Chico, que mesmo sentindo o sangue ferver dentro do corpo, achou que não valia a pena dar ouvidos a tanta besteira. Mas o golpe certeiro veio quando o mais arrogante daquela turma de encrenqueiros disse que Lúcia era bonita, e que queria ficar com ela, e não teve quem pudesse segurar Chico, que foi pra cima do rapaz. Os amigos de Chico davam gritos de incentivo enquanto Lúcia pedia para ele parar, e numa tentativa de apartar a briga, acabou sendo jogada no chão com a força dos corpos dos dois rapazes, que só se soltaram quando um banhista ali próximo separou os dois. Lúcia, chorando, rejeitou a ajuda de Chico, pegando suas coisas e saindo dali sozinha, esbravejando que não queria vê-lo nunca mais.
Sentindo um nó naquele peito que antes vivia na mais tranquila harmonia de um coração adolescente que a tudo descobria, Chico viu seu mundo sempre cintilante de repente perder o brilho. Foi ignorado por Lúcia durante os últimos dias de aula antes das férias de fim de ano, que apenas lhe disse que queria um tempo. Chico, com o coração apavorado pela primeira vez na vida, respeitou seu desejo, e também fingiu indiferença, mas sem tanta verdade como Lúcia parecia fazer. Nas férias, foi a sua casa, queria acabar logo com aquela agonia, resolver as coisas, mas soube pelos pais da menina que ela tinha ido para o interior ficar com os avós. Chico não podia acreditar que ela ainda estava assim com tanta raiva do que tinha acontecido. Ele só quis defendê-la!
No Natal, ela ainda estava nos avós. Então, veio a noite de Ano-Novo. Chico foi visitar os amigos que estavam reunidos na casa de Otávio, mas nada parecia capaz de animá-lo, precisava falar com Lúcia, precisava da certeza de ainda ter seu coração teimoso e tão inflexível. O menino pegou sua bicicleta e pedalou como louco do Centro até o Benfica, até a casa de Lúcia. Quando os primeiros fogos de artifício iluminaram o céu com a chegada de 1993, Chico chorava do lado do muro da casa da menina.
Quando ali tinha chegado, a viu com os pais na rua, conversando com os vizinhos que tomaram as calçadas. Lúcia o viu, andou em sua direção, no que lhe pareceu ser em câmera lenta, e ele sentiu — Deus, como queria não ter sentido! —, mas sentiu que algo estava errado. Chico queria pedir desculpas pela confusão da praia, por não a ter escutado, mas que o amor por ela permanecia o mesmo; queria continuar sendo seu namorado. Chico se sentiu tão vulnerável, queria ser abraçado por Lúcia, mas ela não o abraçou. Seu corpo tremia, queria sair correndo, queria não ter coração, não ter corpo, não ter olhos, não ter lembranças! Lúcia disse que não dava mais certo, e suas palavras com tantas certezas irremediáveis soavam tão absurdas aos ouvidos do garoto que ele queria gritar, mas o fez só por dentro. Lúcia disse que era melhor serem apenas amigos, que não gostava de confusão ou bagunça, e que ele e seus amigos tinham muito disso e que estava cansada, e voltou para junto dos pais.
O menino teve a terrível certeza de que não fazia mais parte da vida de Lúcia. Ele não fazia mais parte do seu cotidiano familiar e dos vários vasos de planta espalhados pela casa dela, que sempre a ajudava regar; também não fazia mais parte do sofá de couro marrom, onde se sentava com o braço por cima dos ombros dela, e onde, em um descuido da supervisão de seus pais, tocou nos seus seios pela primeira vez; também não fazia mais parte da sala de jantar onde teve que comer várias vezes o bolo de milho que a mãe dela fazia toda sexta e que só o cheiro o deixava de estômago embrulhado. Fizera tantas coisas por ela, para amá-la mais.
Chico voltou para casa, onde, ao entrar, se deparou com as tias, os avós e os primos tão diferentes e queridos, mas passou direto para seu quarto, ignorando o pai o chamando para uma foto e a mãe que oferecia um pedaço da torta de frango, a comida favorita dele. Chico pensou que nunca mais na vida sentiria fome.
O golpe fatal aconteceu com a volta às aulas.
Lúcia apareceu de mãos dadas com um garoto do Liceu. Chico quase não pôde acreditar. Como aquilo poderia ser verdade quando ainda a sentia tão sua paixão, seu amor mais verdadeiro, sua pessoa mais querida no mundo todo? Como sua mão tão pequena e de unhas ruídas poderiam segurar outra mão? Como seu sorriso antes tão seu poderia sorrir em outra direção? Não pôde se controlar diante da cena. Chico foi pra cima do rapaz, e logo estavam cercados pelos estudantes sedentos por uma boa briga. Com um corte na bochecha, menor que o corte que deixou nos lábios do outro, Chico recebeu o olhar mais cruel de Lúcia quando recobrou o juízo. No outro dia, foi atrás de conversar, pedir desculpas, mas Lúcia não queria conversa. Ele entregou um bilhete para uma das amigas da menina passar para ela, tinha escrito que a esperaria atrás da biblioteca, onde tantas vezes a beijou. Quando Lúcia apareceu, faltando apenas cinco minutos para o fim do intervalo, Chico já sabia a sentença. Ao contrário dele, cujo coração tinha se tornado tão apertado, mas onde ela ainda cabia direitinho, o de Lúcia era elástico, flexível e se recuperava fácil das desilusões. Chico já tinha sido posto em um lugar sombrio, um que não desejamos nem aos nossos piores inimigos: no lugar de ex- namorado, onde os apaixonados esperam nunca estar.
Chico fecha os olhos, ainda consegue ouvir as palavras de Lúcia:
— Eu sinto muito, mas não estou mais apaixonada por você. Agora estou com outra pessoa.
E assim, tudo acabou.
— Ei, cara. — Chico olha para Giovani, seu rosto sempre parecia prestes a cair numa gargalhada. — Você é o cara mais da hora, sabia?
Chico sorri com dificuldade, mas com sinceridade ao comentário do amigo.
— Vamos pedalar até a Praia de Iracema? — Pedro sugere, já pegando a bicicleta.
— Você vem? — Meio Pão pergunta para Chico, também pegando a bicicleta, onde Otávio já o esperava para pegar carona na garupa já que a sua estava no conserto.
— Vamos, seus idiotas. — E os amigos ficaram aliviados com aquele resquício de quem o rapaz costumava ser.
Chico olha para o céu do fim da tarde mais triste de todas e tenta deixar seus pensamentos mais tranquilos e conformados. Sabia que um banho de mar melhoraria seu humor, e que quando chegasse em casa, encontraria uma macarronada com almondegas feita pela mãe, e que veria seu pai assistindo ao jornal como em todas as noites, resmungando mais uma vez da superinflação, mesmo com a mudança de presidente, agora com o sr. Franco, como o chamava. E no ano seguinte, quando anunciassem o Plano Real e a mudança da moeda, Chico ouviria resmungar de novo:
— A quinta mudança em menos de dez anos, vê se pode!
Mas Chico não queria saber de problemas políticos e econômicos, já que pouco pareciam afetar sua vida. Não queria saber das palavras que escutava do noticiário e depois eram repetidas por seu pai, como globalização, democracia, capitalismo, comunismo, aquecimento global, aids, impeachment, corrupção, hiperinflação e outras coisas pelas quais pouco se interessava ou entendia. Nada disso importava, só queria poder falar com Lúcia mais uma vez, voltar ao passado com ela e ali se demorar um pouco mais.
Estaria mesmo tudo acabado? Olhando para o céu, sabia bem a resposta.
Sabia que tudo que viveu naquele curto tempo modificou seu coração para sempre. O primeiro amor, esse que nem sempre dura para sempre, mas quando acontece, é impossível ser indiferente ao estranhamento do corpo que se modifica para dar espaço ao coração que aumenta de tamanho a cada dia. Os primeiros sintomas são as palpitações no peito e as borboletas fazendo morada no estômago que embrulha ao menor sinal do outro, não deixando aqueles atingidos por sua força dormir ou comer direito. Então, os sorrisos tão fáceis, e só é possível ver uma pessoa de verdade quando ela sorri e não há mais um espaço sequer desconhecido no rosto. E aí vem as palavras que antes tão bobas, soam como as mais verdadeiras declarações e todos viramos poetas. E os pés, que antes caminhavam pelos lugares tão conhecidos, adentram no mais perfeito paraíso, e o céu, tão inalcançável aos que nunca amaram antes, passa a estar a um palmo de distância.
Chico sabia que o coração que Lúcia tanto fez bater acelerado, nunca mais encontraria nela o socorro que tanto precisava. Nunca mais teria nos lábios o sabor de cereja depois de beijá-la, após dividirem um icekiss que ele nunca deixava de comprar na banca de jornal ao lado do colégio. Foi apenas um sonho. Assim como o amor que achava que duraria a vida toda, a eternidade, se expandindo de seu coração para todo o espaço sideral!
E o pior é que tudo parecia estar no lugar, como antes de Lúcia. A praça ainda estava no lugar, ali perto um grupo de meninas riam, ainda tinha de entregar os deveres de casa, escovar os dentes todos os dias. Ainda tinha a privacidade de seu quarto e as fitas, seus pôsteres e videogame, uma pipa nova. O mundo continuava a girar, o sol ainda ardia na pele e a lua ainda brilhava à noite. Mas seu coração não era mais o mesmo. Seu coração não era mais cotidiano como tudo a sua volta. Esse, ainda que machucado, batia forte e constante, lhe lembrando o tempo todo que ainda existia uma vida a ser vivida, e que talvez, ainda tivesse alguns sorrisos a sua espera, mas achava difícil a ideia de seguir adiante deixando tanto para trás, e aquele tanto de amor que ainda sentia por Lúcia, tinha certeza que duraria mais um pouco, a guardando na memória, nas frestas do tempo. O amor, esse doce sonho que tinha vivido e que acabou.
Um amor comum.
Chico, pegando a bicicleta, logo alcança os amigos que já iam na frente entre danações e os sucessos do rock de Brasília, e, naquele momento, era tudo que importava.
◖Na edição anterior de A adulta
leia o capítulo 2 de Amor Comum
◖Você também me encontra aqui:
Até a próxima!
Senti as dores de Chico.
Amei os textos, Anny.
Um beijo.
Anny, boa tarde.
eu acho que você tem tudo para escrever um romance de passagem (coming of age como dizem) com uma história muito boa. fiquei lembrando de um livro chamado Kill All Enemies do Melvin Burgess que tem essa veia de crescimento. os contos possuem várias construções bem bonitas em cada começo de parágrafo e todo o contexto social está pipocando nas elipses. tem caldo para caminhar bastante.
Parabéns!