Da escrita fatal: se você morrer, a cidade muda, muda também ficarei. Ah! Mas se eu morrer, amanhã o teu dia nasce outra vez, maldita!
Atravessar a faixa de pedestres no sinal verde: atropelamento dos pensamentos, tripas cintilantes, palavras entupidas.
O nojo me deixa lúcida. Por isso, escrevo.
Há uma semana sem editar meu romance urgente: barbarizando minha vontade de ser escritora publicada já já.
Educando sentimentalmente minhas mãos calejadas para que peguem essas folhas e as transformem em algo de amar, de julgar, de não entender, de deixar passar, de não saber.
Tenho cinco títulos, mas só gosto daquele que ainda não pensei.
Vou tentar vender mais um poema que eu queria guardar só para o meu livro sintético. Mas estou precisando da sorte de poder ganhar aqueles mil. Sou uma prostituta romântica das palavras.
Em posse de uma faca cega mato a dúvida, algumas vírgulas, desosso um parágrafo e brigo com a linguagem bruta.
Escrever é apagar.
Um míssil está vindo na direção do meu intestino. Outra vez. Por isso, à merda!
Saudades de ser a mais inteligente entre os primos.
Ser escritor é pensar que você sabe português e ainda sim querer ser um transgressor gramatical.
Goteiras no telhado cerebral. Querosene com cheiro de mormaço.
Procurando minha praia deserta pela décima quarta vez.
Toquem um punk violento para uma poesia não escrita.
Não quero ter alma de artista.
Quero escrever um poema no guardanapo que limpei a boca suja de tripa.
Canto uma música de ninar para apagar uma cena.
Crise +30: achar que eu já deveria ter chegado em um nível intelectual que, acredito, estou longe de alcançar.
Eu vou te perseguir, livro maldito! Eu vou te perseguir!
◖Indicações de livros, matérias, entretenimento, newsletters ou outras coisas
duas newsletters, uma revista, uma minissérie
◖Os campos de concentração cearenses de 1915 e de 1932: uma história de isolamento nas secas - Por Leda Agnes Simões;
◖A edição 47 da revista Sucuru;
◖A literatura e a arte em geral consistem em explorar a nossa imperfeição - por Yasmina Reza;
◖A reserva - minissérie dinamarquesa para quem gostou de Adolescência.
◖Na edição anterior de A adulta
falei sobre meu romance
◖Você também me encontra aqui:
Até a próxima edição!
“Tenho cinco títulos, mas só gosto daquele que ainda não pensei.”
Quem nunca? 🫠✨
Esse texto é simplesmente um soco — dos bons. Uma escrita que cospe, rasga, desmonta e, ao mesmo tempo, oferece um espelho sujo, real, onde quem escreve se vê, e quem lê também. É visceral, suado, desconfortável. E talvez seja justamente aí que more a beleza: na lucidez que o nojo proporciona, no desconforto que empurra pra fora da anestesia.
O que mais me pega é essa sinceridade crua, sem verniz, que transforma o ato de escrever em um ritual violento, catártico, quase sujo — mas absolutamente vital. É faca cega, é punho cerrado, é tripa e guardanapo, é briga aberta com a linguagem. E, no fim, é amor também, ainda que à revelia.