"Adolescente, olha! A vida é nova…
A vida é nova e anda nua
— vestida apenas com o teu desejo!".
Mário Quintana - O adolescente
A adolescência e o entretenimento
Já falei aqui um pouco sobre os tempos de Orkut e MSN, quando o mundo das redes sociais ainda parecia inofensivo, e também já falei da adolescência e a literatura, e hoje queria falar sobre como o entretenimento fazia parte da vida dos jovens seres humanos lá na segunda metade dos anos 90 e início dos anos 2000 (eu amo ter vivido essa época!).
No nosso cenário globalizado, do acesso rápido, do descarte, das redes sociais e do consumismo, os meios de entretenimento tradicionais de antes da era das redes sociais e dos streamings, como a TV aberta, os impressos e a rádio (ou os longos minutos no telefone, quando ainda serviam para fazer ligação), acabaram se tornando coisa de gente ultrapassada, me parece. A vida hoje é virtual, principalmente na realidade dos nascidos no século 21.
Nós, nascidos no século 20, somos as últimas testemunhas da vida fincada no mundo real.
É assombroso.
Os meios de entretenimento têm grande relevância e impacto em nossas vidas, comportamento, gostos e identidade, e isso é muito mais forte no período da adolescência, quando ainda estamos buscando nosso lugar no mundo, nossa relevância. E se isso costumava se impor nas décadas antes da virada do milênio através da moda, da música, dos espaços físicos frequentados, da cultura pop de cada época, agora o trabalho é em dobro, pois além da vida cotidiana do lado de cá da tela, temos nossa vida social dentro dela, onde muitas vezes existimos muito mais.
Muitos adolescentes encontram até um certo acolhimento na vida virtual em tempos em que adultos “não suportam adolescentes”.
Temos hoje uma enxurrada de entretenimento através das redes sociais. Para os adolescentes, o TikTok é seu espaço, enquanto que o Facebook e Instagram é mais coisa da velha guarda (choremos). Nos streamings, são diversas as séries que retratam o universo adolescente, desde as mais pesadas e absurdas como Euphoria, Os 13 Porquês e Elite, que apresentam um lado que alcança os adolescentes mas de uma forma que choque e revire o estômago ou que não seja tão próximo das adolescências mais pacatas; e temos algumas séries como O verão que mudou minha vida que, menos agressivas, se concentram mais nesse lado “bobinho” e comum de ser adolescente, com questões menos traumatizantes.
Mas, observo com nostalgia e um certo tom preferencial, que as séries teens dos anos 90/2000 representam muito mais a adolescência do dia a dia, do cotidiano, do real. That 70’ show, Dawson’s Creek e a nossa série/novela Malhação, representam muito bem as dúvidas, os anseios, os medos e as paixões próprias dessa parte tão curta da vida humana, mas tão intensa.
A adolescência e a novela Malhação
Acredito que um dos grandes marcos na TV brasileira foi a criação da série/novela Malhação, que retratava a vida dos jovens brasileiros e que ficou no ar por 27 anos, tendo seus altos e baixos, mas sempre se adequando às narrativas de cada tempo até aqui.
Trazendo temas do universo adolescente como a escola, conflitos familiares, amizade, amor, sexo e amadurecimento, e tocando em assuntos como o aborto, o HIV, racismo e uso de drogas, Malhação, que teve 26 temporadas, marcou toda uma geração de jovens em nossa cultura!
A primeira temporada foi ao ar em 1995 e foi um enorme sucesso de audiência, trazendo ao público uma história de amor entre Héricles e Isabella, que se conhecem na academia Malhação, o ponto de encontro dos jovens da trama.
Em 1999, a sexta temporada de Malhação ganha destaque. Aqui já temos o icônico colégio Múltipla Escolha. Nessa temporada, como em quase todas, temos o conflito da mocinha que se apaixona pelo mocinho, mas os obstáculos (que geralmente eram uma garota “encrenqueira” ou ex-namorados) os atrapalham.
Outra temporada de super destaque foi a nona, exibida em 2002, que tem seus protagonistas Júlia e Pedro como um dos casais mais lembrados e amados de todas as temporadas! Nessa temporada, já temos o Gigabyte, os personagens Cabeção e a inesquecível música Te Levar, da banda Charlie Brown Jr. como tema de abertura.
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Claro que não poderia faltar a 11ª temporada, que teve a maior audiência da história da novela! Quem se lembra da Vagabanda? Pois então. A Malhação de 2004 nos apresenta o bad boy Gustavo e a mocinha Letícia, e juntos temos um apocalíptico mocinho e mocinha que se detestam e depois se apaixonam (ou nos dizeres atuais — e aqui reviro os olhos pois acho uma chatice esses termos — um enemies to lovers). ⠀
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Outras temporadas também tiveram seus pontos fortes e algumas quero esquecer, mas é inegável a importância de uma novela voltada para os jovens, e é uma pena que tenha acabado (mas sempre é possível assistir de novo).
A novela Malhação teve grande impacto e significado no dia a dia dos adolescentes das décadas de 90 e 00. Suas tramas tão comuns ao cotidiano dos adolescentes brasileiros, tão reais e palpáveis, coisa que não vejo muito em séries fenômenos de audiência no estrangeiro.
A mídia tem seu papel na vida dos adolescentes desde sempre. Esse adulto em formação, crescendo nesse corpo que às vezes sente que não cabe, sentindo as emoções que não sabe bem como nomear e mais parecem o fim do mundo! E, na maioria das vezes, é numa série, numa rede social, numa música, em um livro ou revista que encontram consolo, um conselho, uma orientação, uma direção (nem sempre para um bom lugar).
Algo sobre um romance que estou reescrevendo
Estou reescrevendo um romance juvenil que terá como ambientação esse finalzinho da década de 90 e início dos anos 2000! Esse livro já foi betado uma vez, e apesar de não ter ficado péssimo, ainda não estava do jeito que eu queria. Resolvi mudar a época em que se passava tudo (2008) e outros desdobramentos.
*uma curiosidade: planejo ambientar todos esses primeiros livros que tenho a ambição de escrever de 2010 para trás.
A narração também mudou, antes em 1ª pessoa (na voz da protagonista, deixando assim a história mais sobre ela do que sobre o casal central), e agora passei para terceira pessoa, porque quero falar mais sobre o meu co-protagonista que eu amo de paixão e pelo qual poderei abordar outras questões.
Atualmente, tenho seis capítulos reescritos, e já está tomando a forma da qual vou me orgulhar de publicar. Aguardem!♥
Spolies: mobiletes aceleradas, cenários de Fortaleza, uma garota rica e um garoto pobre, inter-racial, questões familiares, escolares e entre classes sociais, e muita rebeldia! E claro, o primeiro amor.
Para ler, assistir ou ouvir
★ Antes de Lana Del Rey, a melancolia já tinha um nome na música: Maysa!
★ Porque precisamos uns dos outros, como Luri fala em sua news!
★ Qual será o futuro do livro?
★ Dói ser feliz? A Gabriela tem um jeito de escrever que adoro!
★ Algo sobre a obrigação de sermos geniais. Amo essas news da Roberta!
★ Essa news da Imagine Só sobre quando não assumimos que somos algo que gostamos de fazer, me tocou muito nesses dias de crise!
★ Para escritores em dias nublados dentro de si, essa news da Tristezas de Estimação !
*Na parte 2, falarei sobre as revistas teens. Eu amava!
Até a próxima!